A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por meio da professora Marilei Casturina Mendes Sandri, em colaboração com as colegas Cássia Gonçalves Magalhães, Suellen Aparecida Alves e Célia Regina Carubelli, foi contemplada com um prêmio no valor de U$5.000,00, obtido por meio de um edital promovido pela instituição estadunidense Beyond Benign, com o apoio da Reitoria da UEPG e do Departamento de Química.
A Beyond Benign é uma organização fundada por John Warner e Amy Cannon, que desenvolve e distribui recursos educacionais ligados à Química Verde e à Ciência Sustentável, que empodera educadores, estudantes e a comunidade em geral para que a sustentabilidade torne-se possível por meio da Química. Com mais de 150 universidades filiadas ao redor do mundo, o prêmio foi destinado a apenas dez, a UEPG entre elas.
A professora Marilei, uma das coordenadoras do projeto ‘Versus: Química Verde e Sustentável na UEPG’, que foi contemplado pelo prêmio, conta que este é um projeto integrado que reúne pesquisa, ensino e extensão. “Nós visamos fazer ações aqui dentro da Universidade, promover o ensino da química verde aqui dentro. Mas como tem a perspectiva da extensão, nós queremos levar isso para a comunidade e esses alunos estão fazendo justamente esse papel”.
Os oito bolsistas que integram a equipe de pesquisa vieram por meio do edital do programa “Universidade Sem Fronteiras”, e a partir da vinda desse novo recurso, poderão ter acesso a um laboratório com novas vidrarias e novos reagentes: equipamentos necessários para reduzir os resíduos produzidos nos experimentos e otimizar o trabalho dos 18 cursos que utilizam a estrutura do laboratório de Química Orgânica da UEPG.
Fernanda Ossovski Podolan da Rosa traz uma visão diferenciada para o grupo, uma vez que é acadêmica de Farmácia. Fernanda acredita que é possível disseminar as práticas sustentáveis por todos os cursos da Universidade. “A gente tem acesso a artigos e estudos em que a gente vê que a química farmacêutica é a que mais gera resíduo, mas por outro lado, também é uma das que mais trabalha para reduzir os resíduos”.
A professora Marilei, suas colegas de projeto e os oito estudantes imersos no laboratório de Química Orgânica acreditam na possibilidade de se fazer uma química ambientalmente mais benigna, eticamente responsável com as questões ambientais e com a saúde humana.
A equipe de professoras à frente do projeto vislumbra transformações positivas e impactantes para seus alunos, para os laboratórios e para as práticas dentro da UEPG, uma vez que a vidraria a ser adquirida – que é mais cara que as demais – irá possibilitar os trabalhos em microescala, utilizando cada vez menos reagentes e diminuindo drasticamente a geração de resíduos.
Célia Regina Carubelli, responsável pelo laboratório de resíduos químicos da UEPG, enfatiza: “na geração de resíduos, sempre a gente tenta minimizar, reusar ou reciclar. A quantidade de resíduos gerada pela Universidade é muito grande. Então, já que eliminar é praticamente impossível, minimizar já é o primeiro passo para você fazer um gerenciamento de resíduos adequado”.
Para Cássia, é essencial viabilizar a inserção da química verde dentro das práticas de ensino. “A gente tem colocado em questão o avanço das nossas pesquisas nesse quesito de reduzir quantidades, de adaptar consumo energético, o consumo de água, tudo isso contribuindo para a formação dos alunos”.
Suellen Aparecida Alves, professora do Departamento de Química, concorda com Cássia e diz que a formação dos acadêmicos que inserem uma prática sustentável em suas atividades é um ponto essencial a ser ressaltado. “O mercado hoje atua dessa maneira. Ele está vendo que a sustentabilidade, eles precisam caminhar junto com isso”.
Agenda 2030
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU lançados como meta para serem cumpridos até 2023 estão diretamente ligados à pesquisa sobre Química Verde desenvolvida pela UEPG. O Projeto Versus contempla 2 ODS: 4 – Educação de qualidade; e 12 – Consumo e produção responsáveis.
“O mundo inteiro está se esforçando para atingir isso”, comenta Matheus José Prestes, futuro bacharel, que entrou no projeto por curiosidade e hoje não consegue dissociar o pensamento sustentável do seu dia a dia. A acadêmica Beatriz Martins Torati, também do bacharelado, conta que sua visão sobre o mercado de trabalho mudou a partir do momento em que passou a ter uma experiência em um laboratório de química orgânica equipado e funcionando dentro do conceito de química verde “A gente acaba pensando lá na frente, acaba tendo mais essa noção: como que vou planejar, o que eu vou fazer com o resíduo que eu possa gerar?”.
Por outro lado, Ulisses, acadêmico de Licenciatura em Química, comenta que a vivência no Versus ofereceu a ele uma nova perspectiva sobre o ensino. “Você aprende na química convencional que é preciso chegar no ponto B, saindo do ponto A. Então o teu caminho é linear. Mas na química verde, você pensa primeiro no ponto que você quer chegar pra você definir o seu caminho. Isso é importante para você ter profissionais mais conscientes no futuro”. E completa: “eu acho que o objetivo principal é chegar num ponto em que a química esteja completamente integrada dentro dos currículo da universidade”.
Receber um recurso como esse destinado a um laboratório didático, para a professora Marilei, é um acontecimento muito significativo. “Quando a gente participa de outros editais, raramente os recursos são direcionados para os laboratórios didáticos, normalmente a verba é direcionada para os laboratórios de pesquisa”.
Multiprofissional
A possibilidade de entrar em contato com colegas de diferentes áreas amplia o conhecimento dos estudantes e reforça a necessidade de ter laboratórios equipados. Gabriely Cristiny Braga está estudando para ser bacharel, mas tem contato com atividades e colegas da Licenciatura. “O projeto ampliou também muito a minha visão relacionada ao ensino. E a professora Marilei sempre vem com projetos diferentes que fazem com que a gente enxergue a universidade de outra maneira”.
Um legado: fazer a diferença
Além de colegas de outras áreas, Versus conta com a presença de uma egressa. Juliane Pscheidt Alves ressalta que conhece o mercado de trabalho, suas exigências, e que reconhece como aqueles que passaram pelo projeto já estão fazendo a diferença lá fora. “O projeto tem transformado o Departamento; os profissionais já estão saindo diferentes, com outras visões, isso é muito importante”.
Lorena do Rocio Gebeluca, por outro lado, está apenas no seu segundo ano do bacharelado, mas já reconhece a importância do trabalho desenvolvido nos laboratórios da UEPG. “A química verde é o futuro da química. Eu acho que vou levar isso em todos os meus anos da graduação para todos os meus colegas”.
A verba concedida pelo prêmio já está em processo de liberação e possibilitará que as atividades repaginadas aconteçam ainda em 2024. As quatro professoras Marilei, Cássia, Suellen e Célia se orgulham do trabalho desenvolvido e se emocionam com os depoimentos compartilhados. “O futuro será norteado pela sustentabilidade e vocês estarão lá fazendo isso acontecer”, declara Marilei à sua equipe.
da UEPG